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20/06 Escrita Bélica Preta. Hoje acordei com vontade de me movimentar mais. E desde ontem que estou pensando muito em qual é a intenção dessa escrita. E de primeira penso; é uma escrita de ataque. 

Todas as questões que perpassam meu povo são documentadas. Mas nem todas as revoluções foram realizadas. Mais do que nunca a escrita precisa atacar, carregar referências a serem expostas ao mito da democracia que vivemos. Mesmo mito que  alimenta um dos países mais desiguais do mundo, com altas taxas de feminicídio e o que mais mata travesti e transexuais no mundo. Aliás estou cansada de repetir que o Brasil é o país que mais mata travesti e transexuais no mundo. Mas não posso parar de repetir enquanto nada muda. 

Toda inclusão e conquista é pouca. O imaginário da Branquitude, o vigente, não tem noção do burraco Histórico que fizeram. Não tem noção das múltiplas culturas e reconhecimentos que há nos corpos negros e indígenas. Não tem noção do valor material, físico e psicológico que nos devem. Se não fossemos pacíficos e movidas pela idéia de bem comum e boa convivência não sobraria um branco vivo para contar a nossa história e dominar as nossas terras.

Mas o nosso amor é que alimenta as nossas avós trabalhando em casa de terceiros, brancos e porcos. Nosso amor é que alimenta o imaginário de machista e patriarcal vigente. No final das contas as mulheres férteis são quem carrega essa culpa oculta e mundana que é viver em uma sociedade globalizada e capitalista.   

Bélica é a escrita de guerra testicular feminina. Daquela que já foi, e sempre é universalizada para o extermínio das outras. Creio que não queremos mais ser vistas dessa forma. A deputada trans, a escritora travesti, a única isso, a única aquilo. Precisamos dar voz a corpos trans masculines e encontrar uma luta onde a representatividade trans seja proporcional a representatividade cis e que assim seja as nas representações relacionadas a raça que carregamos com o racismo. E que a consciência de intersecção seja de saber comum. 

Hoje passei o dia aplicando pedras coloridas em uma gola. Uma peça que criei no ideia de cultivar a minha vida em movimento o que faço na terra. E não é uma roupa simples que pode ser usada em várias ocasiões. Mas é uma roupa que abre portais. Que documenta um espaço tempo dessa corpa criadora. Pela costura que une materiais esquecidos. transmuta os saberes que se proponha a uma nova realidade. Algo que exponha os meus instintos criativos.

Isso é trabalhar com excelência. Isso é o que consigo ver para além de uma tela escura. Isso é se mostrar presente de um mundo em decomposição. Transmutar até o último suspiro de vida subalterna que fomos condenadas. Vida é o único investimento recebido dessa sociedade colonial que nos alimentada com coisas sem precificação, o que é  considerado lixo, incluindo eu mesma. E as palavras escritas por corpas e corpos negres vives ou mortos são as armas de guerra possíveis. Por isso sonho com favelas cheias de Carolinas, cheias de corpas e corpos com o mesmo poder de transformação. Sonho com Jup do Bairro tomando a faixa presidencial como já disse Ventura Profana. Isso sim seria parte possível do processo de travessia por debaixo do arco-íris pela salvação de uma nação.    

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